sábado, 20 de outubro de 2007

O Espetáculo e o Torcedor


Fui ver o jogo do Botafogo. Mas pera aí, eu não sou vascaíno? A música que sai da minha boca toda vez que lembro de exaltar meu time do coração não é:

"Vou torcer pro Vasco ser campeão!
São Januário! Meu caldeirããããããoooo..." ?

Mas esporte independe de paixão, nessas horas. O que vale é o espetáculo, e afinal de contas, a meia era cinco reais. Chamei meu amigo Filipe, e marchamos rumo ao Engenhão.
Lá, como sempre, a piedosa bilheteria não contribuía, e entramos primeiramente numa fila que depois descobri ser para o nada. Mais precisamente, para um grande bloco de concreto, já que os Legionários, os policiais militares indiretamente subordinados ao comando de César, estavam norteando a grande multidão ávida por ingressos para...o nada. Talvez fôssemos parar em algum lugar que não conhecessemos. Na verdade, parte de mim queria continuar na fila, e por que não, acabar encontrando Nárnia ou o bendito do Chuí, que até hoje me confunde com Ijuí, uma simpática cidade na fronteira entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul?
Não, nada de Nárnia ou geografia. Eu queria ver o espetáculo. Pressentindo que aquela fileira iria nos levar a nada, deixei meu amigo guardando lugar e comecei a desbravar a em meio aos botafoguenses.

Achei uma fila bem mais curta e chamei o Filipe. Depois de ouvirmos que o Lúcio Flávio fizera um gol, os que estavam à nossa volta começaram a urrar, berrar e outros sons característicos de advogados, pipoqueiros, médicos e caixeiros-viajantes que, durante 90 minutos, se transformam numa curiosa espécie chamada Torcedor. O Torcedor é o cara que todos os dias bebe no bar, e quando o time faz o gol, lança ao alto o copo cheio, como se elevasse a sua maior glória até as alturas do estádio. É o pai de família que ensina a criança a respeitar os seus coleguinhas, mas que não poupa a mãe do juiz caso este decida não marcar uma falta a favor de seu time.
Após alguma agitação, conseguimos entrar no estádio e aproveitamos o que ainda restava do primeiro tempo.

Uma falta aqui e ali, poucos lances de perigo, e finalmente o intervalo. Só fui saber disso quando alguém do meu lado falou, pois além de estar meio desatento na hora, o estádio mais moderno da América Latina não tem um cronômetro. Fala sério, até eu tenho!

O jogo recomeçou com o Botafogo dominando. Não demorou muito, e num rebote mal largado pelo goleiro do Sport, Luciano Almeida acrescentou outro gol ao placar: 2x0.

O juiz ladroou. O árbitro Paulo César de Oliveira, implacável perseguidor dos times cariocas, negligenciou pelo menos três lances violentos: Um empurrão em Juninho, um carrinho em Zé Roberto e uma falta dura em Luciano Almeida. O mesmo Luciano Almeida acabou caindo sozinho dentro de campo e se contundiu, e agora só volta em fevereiro de 2008. A torcida gritou seu nome e logo após o de Cuca, o técnico amado.

Não tem problema, futebol independe de juiz. Chute cruzado de Dodô, de primeira(após lançamento de Lúcio Flávio)e era mais um. 3x0. Aí ouviamos as músicas, os hinos, a batida e as luzes dos sinalizadores mergulhavam no preto-e-branco das arquibancadas do estádio.
Faltando pouco para acabar o jogo, numa jogada que não consegui ver direito, o Sport fez com Reginaldo seu gol de honra: 3x1. Os botafoguenses vaiaram, mas não impediram que os 39 torcedores do time do Recife comemorassem . O jogador que fez o gol, heróico, carregou a bola até o centro de campo. O juiz deu 3 minutos de acréscimo para finalmente, os 15.130 do lado vitorioso se alegrassem pelos 3 pontos obtidos.

Só que o Dodô quer disputar a Libertadores e disse que vai sair do time ao término do contrato. O Zé Roberto vai pra Alemanha e a torcida ontem já gritava "Fica, Juninho!"
Mas pera aí, o Torcedor não é o cara que xinga? Que chama todo mundo de mercenário e que
reclama de torcer para um time com os piores adjetivos ao menor sinal de derrotas?

Gente, Torcedor é Torcedor. É algo que não dá pra explicar.

E ninguém cala
Este nosso amoooooor...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Crônicas da Kombi I - A Saída (ocorrida 04/10/07)


Meu pai em casa significa mais um olho(dois, ele não é caolho!) atento aos meus movimentos. Já não posso me mover com a sutileza de um gato como me é de costume, sem que seja perguntado tanto a razão como o destino de meus passos. Mas vá lá. Pai é pai. E o meu é, sem dúvida nenhuma, o melhor pai do mundo. Resolvemos por bem assistir um filme no cinema. E o filme escolhido foi A Hora do Rush 3.
Meu pai é um ferrenho crítico dos estacionamentos de shopping, e mesmo com o carro na oficina, reclama das altas tarifas e do tempo perdido ao tentar encontrar uma vaga nos finais de semana. Portanto, as crônicas da Kombi (postadas neste blog em ordem anacrônica à ocorrência dos fatos) evoluíram para os Relatos do Táxi, já que estávamos em cima da hora para conseguirmos uma sessão antes das 16h. E por que uma sessão antes das 16h? Bem, porque ainda que não façamos nada após este horário, devemos ter a sensação de que podemos fazer alguma coisa após este horário. Coisa de aquariano(eu). Coisa de pisciano(meu pai). Ah, sei lá, só sei que marcamos de ver a sessão de 14:15, e não passaríamos disso, fosse o que houvesse. Fomos num divertido trajeto até o shopping, como costumam ser nossos passeios de táxi. Um diálogo sempre se estabelece da seguinte forma: A primeira fala é de meu querido pai, seguido pelo taxista.
-O tempo mudou né, mestre?
-É, é verdade. A gente pega essa rua aqui e segue em frente, né?
-É, isso mesmo. Disse o rapaz da meteorologia que vai chover essa semana. (Detalhe: todos os jornais assistidos aqui em casa possuem quadros de meteorologia apresentados exclusivamente por mulheres)
-Ah, mas aqui no Rio é sempre assim: Chove, aí depois faz sol, aquele calor desgraçado e chove de novo. Eu tenho que rodar com o ar-condicionado o dia inteiro.
-É mestre, lá onde eu trabalho também. Esses dias o ar-condicionado quebrou e o pessoal tava quase quebrando o lugar... (gargalhadas)
-Eu tenho que deixar ligado por causa de passageiro. Quando faz calor e esquenta o carro todo então, nossa...
E mais “Nossas” se sucedem, talvez em homenagem à santa com suas fitinhas tradicionalmente presas ao espelho de qualquer táxi carioca. Chegando ao shopping, já estava morrendo de fome, mas decidi não ser o filhinho mimado de 5 anos que quer ir no McDonald's de qualquer jeito. Esperaria passarem-se uma meia hora e então seria o filhinho mimado de 17 anos que quer ir no McDonald's.
Quando voltamos(de táxi), compramos uma pizza. Durante o novo diálogo, soube que César(ave, César!) é dono de uma frota de táxi, que crivaram acidentalmente com 98 tiros um ex-PM envolvido com a máfia das vans e que o Engenhão era motivo de preocupação. Mas que se exploda, eu só queria comer a bendita pizza! Estava indo de volta para casa, mas nunca vi tantos sinais vermelhos como naquele dia. Os piores monstros dentro de mim estavam se agitando feito quimeras loucas em sua própria libido por sangue. Ou melhor, por pizza. Sério, já não agüentava mais aquela história toda. Até que o taxista puxa a seguinte frase:

-Pois é, e na assembléia tentaram moderar os táxis. Deu em quê? Deu em pizza!

Ah sim, pizza. Pizza!

domingo, 7 de outubro de 2007

Esses Dois de Novo?



Rush Hour 3, trazido ao Brasil por intermédio da PlayArte Pictures, é A Hora do Rush 3. É, eles tinham que colocar um artigo, só pra fazer tipo. Mas vamos ao que interessa:

O filme começa com a musiquinha tradicional que somente fãs da série como eu(que já vi os dois primeiros 38 vezes juntas) identificariam e logo de início há ação com Jackie Chan e a comédia baseada nas loucuras de Chris Tucker. Jackie novamente interpreta o famoso inspetor Lee, da polícia de Hong Kong enquanto Chris Tucker, o detetive Carter (novamente suspenso) faz suas estripulias na polícia de Los Angeles. O agora embaixador Han, que em A Hora do Rush era um simples cônsul está para revelar ao mundo um segredo preservado há mais de 500 anos: A identidade dos verdadeiros chefes da Tríade, a máfia chinesa (provavelmente a que encabeça a máfia dos pães no Rio de Janeiro) e um nome: Shy Shen. Quando está para falar mais sobre suas investigações, um franco atirador o acerta bem no peito, e Lee, como seu segurança particular, vai atrás do criminoso. No caminho, encontra Carter (Tucker) e a trama se inicia. Revêem Soo Yong, a filha do embaixador (aquela garotinha do primeiro que foi seqüestrada) que faz os dois prometerem que acharão o responsável pela tentativa de assassinato, enquanto Carter descobre que Lee tem um irmão adotivo chamado Kenji, ligado aos fatos ocorridos. Quando Soo Yong vai para a casa de um diplomata francês aliado de seu pai, sofre um atentado. Ocorre então, a decisão de enviar todos os envolvidos com o caso para a França e lá a dupla Lee-Carter estreita os laços com a investigação.

A graça de A Hora do Rush 3 está na química entre Chris Tucker e Jackie Chan, e no estilo de atuação invariável dos dois. O roteiro prende-se à piadinhas já realizadas nos dois primeiros mas segue a tendência de ser um filme com falas para americanos, como a maioria em cartaz nos cinemas brasileiros.

Achei legal a fala de George, o taxista francês que no início odeia os americanos mas depois pede a eles que o deixem participar de sua caçada:

“Eu imploro! Me deixem ir com vocês! Eu até tomo esta porcaria (com um copo de café da rede global de cafés Starbucks na mão) que vocês consomem todo dia se precisar!”

E em outra feita:

Ah, agora eu entendo que nunca poderei ser americano. Jamais sentirei a sensação de matar sem motivo!

O filme entra na categoria “Filmes Legais Para Se Ver Pelo Programa” ou seja, pelo simples prazer de sair de casa e assistir o filme bem-acompanhado, seja com a namorada, com os amigos ou como no meu caso, com meu querido e amado pai. E eu me vinguei da rede capitalista de cinemas com seus preços exorbitantes, combos de pipoca e refrigerante de um litro!(que não me paga nenhum incentivo cultural para reproduzir seu nome aqui) Exibi, com um sorriso sádico no rosto, um vale de 50% de desconto sobre a meia-entrada para assistir Hairspray dois dias depois. Depois eu volto com a crítica a este recente musical hollywoodiano.

Intro: A Cidade do Sol


Bem-vindo ao blog "Pena, Papel e Tinteiro"! O título do blog é uma brincadeira com o nome de um divertido passatempo que me lembra as vindas da igreja ao lado de uma fiel companheira, chamado "Pedra, Papel e Tesoura". Provavelmente você já ouviu falar desse jogo, e se não, falarei mais a respeito dele durante as postagens que sucederão.
Por esses dias, encontro-me deliciado com as páginas do autor Khaled Hosseini em seu novo e badalado romance "A Cidade do Sol"(Nova Fronteira, 39,90 reais), que conta os dramas vividos por duas mulheres no Afeganistão desde a queda da monarquia até os dias atuais. Khaled Hosseini é o mesmo autor do livro "O Caçador de Pipas", best-seller mundial e que consagrou Hosseini como proeminente escritor da nova geração de clássicos.

De um lado, Mariam, filha ilegítima de um homem rico chamado Jalil que vive em Herat, a 650 quilômetros de Cabul e que após a morte da mãe, é obrigada pelas esposas invejosas de seu pai a se casar com um sapateiro de classe média, Rashid. Rashid é um homem amargurado pelo seu triste passado com sua antiga família e após um aborto instantâneo de sua nova esposa, passa a tratá-la de maneira cruel e insensível, tornando-a mais uma das mulheres de burqa a esconder suas frustrações e mágoas debaixo de um véu.

Do outro, temos Laila, filha de um professor universitário e de uma mãe que, após o início da invasão soviética torna-se uma mulher triste, com ódio do marido e negligente para com a filha, por cultivar apenas a memória de Ahmad e Noor, seus filhos mortos no conflito. Laila se apaixona por Tariq, um amigo de infância que perdeu uma das pernas durante a guerra contra os russos.
Após uma série de reviravoltas diretamente ligadas à guerra pendente no Afeganistão, Laila e Mariam cruzam suas histórias em um determinado ponto, e o livro torna-se um retrato não somente das relações entre afegãos, mas entre brasileiros, americanos e quaisquer outros povos capazes de desenvolver idéias como a do ódio, a do amor e do sofrimento.

Neste livro, os envolvimentos das personagens são tratados com uma descrição suave dos fatos. Apesar do autor narrar os sentimentos, o leitor consegue se emocionar e raciocinar juntamente com qualquer um que tenha parte de sua história fragmentada.
Como boas-vindas ao meu novo blog, um pequeno trecho, o qual muito me agradou na obra:

"Laila escondeu o rosto nas mãos, sentindo o medo lhe comprimir o peito.
'Deveria estar esperando por isso', pensou. Quase todos que conhecia estavam pegando suas coisas e indo embora. A família de Hasina tinha fugido em maio, para Teerã. Wajma e seu pessoal tinham ido para Islamabad. Os pais e irmãos de Giti partiram em junho, depois que ela morreu. Depois que essa gente se foi, suas casas foram ocupadas por milicianos ou por estranhos que vinham morar ali.
Todos estavam indo embora. E agora, Tariq também.
- E minha mãe já não é mais tão jovem - dizia ele. - Os dois estão apavorados. Olhe para mim, Laila.
- Você devia ter me dito.
-Olhe para mim, por favor.
Primeiro, foi um som rouco. Depois, um gemido. E ela começou a chorar. Quando Tariq tentou enxugar suas lágrimas, ela afastou a sua mão. De repende, bateu nele. Bateu de novo, e puxou o seu cabelo. Ele precisou segurá-la pelos pulsos e começou a dizer alguma coisa que Laila não conseguia entender. Falava de mansinho, num tom sensato até que, sabe-se lá como, o rosto dele estava colado ao seu e ela sentiu o calor daquele hálito em seus lábios outra vez.
"